segunda-feira, 7 de março de 2011

Percepção II

    Querido primo, desculpe-me pela demora. É que certos acontecimentos e lembranças tem me tirado o foco nesses últimos dias. Meus pensamentos nem mais podem ser vistos de tão distantes que estão. Nem eu mesma sei por onde eles andam, só sei que quando me dou conta eles já estão consumindo a paz que me resta após o crepúsculo. E é por isso que me abrigo aqui, no computador. No lugar onde eu me sinto segura, onde eu domino, onde posso compartilhar parte dos pensamentos atordoadores que tenho com gente que, às vezes nem se importa, mas que pelo menos me ouve.
    E entre lembranças, pensamentos, e saudades que tenho, não poderia me esquecer também do dia em que te conheci. Já estava esperando que viesse. Só não sabia que era o menino mais alto e branco que eu já havia visto pessoalmente. Parado com seus mais de 1,80m, com um sorriso, tanto nos lábios quanto nos olhos. Que bizarro, dava de ver as veias por trás do fino tecido transparente que o cobria externamente. Mas era bonito, bem bonito.
    __Oi, eu sou o Alan.
    __Percebi.
    Você provavelmente nem desconfiou, mas a partir desse momento pensamentos tipo “Como pode ter dito uma besteira dessas, Bianca Nascimento? Não pensou antes de falar? Por que não disse só um singelo e conhecido Muito prazer ou simplesmente um Oi? Por que ficou olhando pra baixo enquanto falava? Tem medo de gente é?” começaram a torturar meus neurônios. É, pensamentos como esses costumam me atormentar por dias sempre que digo alguma besteira, e acredite, isso acontece com mais frequência do que você imagina. Os passos iam ora ligeiros, outrora lentos. E a cada metro que andávamos mais e mais a palavra se repetia na minha cabeça, cada vez com uma tonalidade diferente, uma entonação mais grave, ou aguda. Palavra maldita! De vez em quando, durante aquele dia, me pegava sorrindo ainda, zombando das minhas próprias tragédias.

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